Jones projeta O ES planejado e moderno em 1943

O terceiro encontro ministrado pelo historiador e professor João Gualberto Vasconcellos, dentro do minicurso sobre a História da Política Capixaba, tratou do processo de industrialização do Espírito Santo. A aula aconteceu nesta sexta-feira (25) na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, no Plenário Rui Barbosa.

Em sua explanação, o historiador falou sobre o fim da República Velha e o início do processo de desenvolvimento econômico industrial no Espírito Santo.  A economia deixa de ser baseada na cafeicultura e se industrializa. Vasconcellos frisou a elaboração do primeiro plano de desenvolvimento do estado, em 1943, por Jones dos Santos Neves – então interventor da Era Vargas no Estado.

“E ele cria, então, o primeiro plano de desenvolvimento que o Brasil teve. O primeiro planejamento estadual é feito por Jones dos Santos Neves (…) . É muito interessante. Ele criou (…) o plano de valorização econômica do Espírito de Santo (…). O Jones tinha uma trajetória pessoal de vinculação a essa ideia de plano, de planejamento, de racionalidade. Então, em 1943, ele começa a implantar e ele tem uma frase:  ‘Os galhos dos cafezais são frágeis demais para suportar o peso da economia do Espírito Santo´”, contou Vasconcellos.

De acordo com João Gualberto, Santos Neves convidou classes conservadoras para discutir a economia do estado a partir da industrialização. “Nosso projeto industrial é um projeto jonista”, afirma o professor.

Fotos da aula

Com base na linha do tempo apresentada pelo historiador, nos anos seguintes, de 1947 até 1966, Carlos Lindenberg e Francisco Lacerda de Aguiar (Chiquinho) se alternaram no comando do Espírito Santo.  Nesse período, Lindenberg realizou, em 1960, o primeiro Simpósio Capixaba de Desenvolvimento.

“(…) já era o governo de Juscelino, o Brasil já tava caminhando, começava a ter a indústria automobilística, (…) uma indústria siderúrgica, e o Jones então, e o Carlinhos [Lindenberg] voltou [ao poder] com esse ideal modernizante. E o segundo governo do Dr. Carlos é o governo que faz a nossa transição. O Carlos faz, em 1960, o primeiro Simpósio Capixaba de Desenvolvimento. É nesse primeiro simpósio (…) que as bases do projeto industrial são colocadas, com toda a clareza”, explicou João Gualberto.

Em 1962, ano de eleição, Lindenberg convida novamente Jones dos Santos Neves a ser candidato a governador do estado, em um acordo assinado pelos partidos da época. Nesse documento, estava traçado todo o projeto de execução do desenvolvimento industrial do Espírito Santo.

“Aí o Carlos Lindenberg faz esse movimento e, em 62, ele chama Jones a candidato a governador. Jones faz um acordo (…), assinado pelo PTB e pelo PSD, que era o acordo do governo para a eleição de Jones. É extraordinário você ver o que é a visão de 1962. Eles falavam da criação do corredor de exportação, eles falavam da criação da Companhia Siderúrgica de Tubarão, com este nome, CST. Eles falavam do Porto de Tubarão. E eles falavam na criação do Bandes, com esse nome, Banco de Desenvolvimento do Estado do Espírito Santo. O modelo industrial estava pronto em 1962 no acordo do PSB. (…)”, sintetiza Gualberto.

Porém, Santos Neves saiu perdedor no pleito e “Chiquinho” reassumiu. Dessa forma, “o Estado mergulha novamente naquele interregno populista”, analisa o historiador.

Em 1964 os militares tomam o poder e escolhem Cristiano Dias Lopes Filho para comandar o estado. Na visão de João Gualberto, Cristiano foi um grande estadista e colocou em prática, junto com seu sucessor, Arthur Carlos Gerhardt Santos, o projeto traçado quase 20 anos antes por Jones dos Santos Neves.

“(…) ele foi um estadista extraordinário, o Cristiano. O projeto do Cristiano era um projeto construído por essas elites, era um projeto jonista (…).Então, você tem o Arthur [sucessor de Cristiano], você tem o Cristiano, que foram governadores nesse primeiro momento, que foram tocar o mesmo projeto. Então, é o projeto de Jones, é o mesmo projeto industrial. O Cristiano começou com as renúncias [fiscais], com esses projetos, e o Arthur faz a inflexão internacional, com a implantação que chamava os ‘grandes projetos’. Samarco, a  Aracruz Celulose, a CST e a Vale. Esses eram os projetos que modernizariam o nosso estado”, concluiu o professor. 

Gualberto resumiu: “O projeto de industrialização, construído desde os anos 40, se materializa de verdade, vira fato, no governo de Cristiano, que deu as bases institucionais disso, e depois se materializa na captação dos grandes planos industriais no governo do doutor Arthur”. 

Por fim, o educador explicou que foi no governo de Élcio Álvares (1975-1979) que todo esse projeto é concluído. Em 1970, com a Samarco e a CST inauguradas, com o Porto de Tubarão em pleno funcionamento, o Espírito Santo tem pela primeira vez um estado que tem uma metrópole, que é Vitória.

“(…) é o governo que pega uma região metropolitana que existia, que não existia antes (…). E aí, então, havia uma região metropolitana. A rodoviária tá ai até hoje, do governo do Élcio. A terceira ponte é governo de Élcio. Então, assim, eu acho que o projeto do Espírito Santo, ele frutifica, ele materializa, ele produz resultados nos anos 70”, acrescente Gualberto.

“Quando eu era criança eu era espírito-santense. Capixaba era quem nascia em Vitória. O termo capixaba só vira o termo que expressa o Espírito Santo quanto o Estado se metropoliza, quando Vitória se transforma realmente no epicentro da economia capixaba”, concluiu.

Fonte: POLÍTICA ES