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Crise do Desejo | O que pode estar por trás da falta de tesão?

Published

4 dias ago

3 de julho de 2025

Crise do Desejo: o que pode estar por trás da falta de tesão? — Foto: Pexels

Marcela Mc Gowan, reflete sobre como o estresse, em muitas casos, pode ser o principal motivo para a ausência da libido

Quando comecei meu trabalho na área de sexualidade, a queixa mais frequente no meu consultório era a dificuldade de atingir orgasmos. A maioria das mulheres tinha pouco conhecimento sobre seu próprio corpo e formas de prazer – então, não era por acaso que grande parte das minhas consultas e criações de conteúdo girava em torno de explicar sobre clitóris, zonas erógenas e maneiras de estimular.

Nos últimos anos, especialmente após a pandemia, percebi uma mudança nessa queixa. Ocupando um lugar secundário na lista de insatisfações sexuais e cedendo o topo do pódio para outro problema: a falta de desejo sexual. O tema lidera, hoje, as conversas, questionamentos e angústias femininas quando o assunto é sexualidade. Estamos vivendo uma verdadeira crise do desejo.

Mas, antes de aprofundarmos sobre as possíveis causas desse problema, é preciso entender o que, afinal de contas, constitui nosso apetite sexual.

Para a sexologia, o desejo é umas das dimensões essenciais da sexualidade humana, e configura o interesse, motivação e a intenção de buscar experiencias sexuais ou se envolver em atividade de cunho sexual. Em resumo, o quanto queremos começar algo nesse sentido – o que é popularmente chamado de tesão.

Durante muitos anos, os estudos de sexualidade reconheciam a existência de apenas um tipo de desejo sexual, que chamamos de desejo espontâneo. Ele é aquele que surge do nada, muito comum em início de relacionamento. Sabe quando vocês nem conseguem terminar um filme sem transar?

Porém, os estudos mais recentes mapearam que esse desejo costuma ser substituído, especialmente em relacionamentos mais longos, cedendo lugar ao chamado desejo responsivo – que, como o próprio nome sugere, surge como uma resposta a estímulos positivos. Ou seja, não aparece do nada, precisa ser conquistado.

Entender esse conceito é importante para alinharmos corretamente as expectativas de casais sobre que tipo de desejo é esperado dentro de relações longas. Já que essa transição é algo natural, e viver no anseio de sentir “o tesão do começo” impede o desenvolvimento e melhora real da situação.

É importante aceitar que as coisas mudam, e que o desejo responsivo não é inferior ao espontâneo, apenas diferente. E que, se ele está presente, significa que está tudo bem com esse aspecto da sua sexualidade. Então, você pode estar neutra em relação ao sexo, e até com preguiça; mas, se ao receber os estímulos corretos, isso te anima o suficiente para se engajar na atividade, seu desejo está funcionando bem, mesmo que seja diferente lá do início da relação.

Por outro lado, se nada está sendo suficiente para te fazer querer sexo, talvez você também esteja presa na “crise do desejo”. E a que se deve isso?

O desejo é influenciado por múltiplos fatores. Uma maneira lúdica de dividir é pensar nele como uma pizza de 8 fatias, onde cada uma representa um fator que impacta no desejo. São eles:

Tabus e crenças limitantes sobre sexo
Autoconhecimento
Saúde Física e Hormônios
Saúde Mental e o estresse
Fases da vida (como menopausa, pós-parto)
Relacionamento
Autoestima
Qualidade do Sexo

No imaginário geral, as pessoas tendem a acreditar que o principal impacto no desejo feminino está em alterações hormonais. É bem comum que as pacientes procurem o consultório querendo dosar sua testosterona acreditando que uma baixa nela seria a responsável pelo fim da libido. E é claro que ela tem um impacto, mas está longe de ser a principal responsável pela crise que vivemos.

Quero destacar aqui um desses fatores que está no topo da lista quando o assunto é acabar com o tesão e a qualidade do sexo: o estresse. Vivemos em uma sociedade cronicamente estressada. Estamos o tempo todo expostos a muitos estímulos que geram uma enorme sobrecarga mental. Mulheres enfrentam jornadas duplas e até triplas de trabalho com os cuidados da casa e dos filhos – o que, na maioria das vezes, não é distribuído igualmente entre o casal.

Um corpo estressado é um corpo cheio de cortisol e adrenalina que está pronto para lutar e fugir, e para isso, tende a diminuir qualquer função que não seja de sobrevivência. Ou seja, adeus tesão! Em casos de estresse agudo, quando o “perigo” some, o corpo restabelece seu funcionamento; mas, no caso do estresse crônico que vivemos, o corpo nunca encontra meios de voltar ao seu estado natural de relaxamento.

Por isso, diminuir o estresse é uma ferramenta fundamental para melhora da libido. É impossível eliminá-lo, já que ele é inerente à realidade da nossa sociedade. No entanto, a boa notícia é que alguns pontos podem ajudar.

O primeiro é estabelecer uma divisão mais justa de trabalho em casa, diminuindo sua sobrecarga.
Aprender a dizer não para projetos ou compromissos que você aceita por educação, mas que esgotam seu tempo.
Diminuir o tempo de tela. Sim, o celular nos bombardeia de estímulos que deixam nossa menteexausta e ansiosa.
Criar um momento de descompressão. É preciso fornecer ao nosso cérebro um marcador de que os momentos de tensão do dia acabaram e ele pode retornar ao seu estado natural relaxado e apto a receber prazer. A melhor maneira de fazer isso é com a prática de exercícios físicos, mas meditação, alongamento, banho relaxante – e, às vezes, até o ato de chorar – também ajudam.

O “relaxa e goza” realmente funciona, e faz a diferença na qualidade de vida sexual. É um primeiro passo de muitos que precisam ser dados para sairmos dessa crise. Mas não se preocupem: essa coluna irá abordar cada fator, e conduzi-las para uma jornada de mais prazer.